segunda-feira, 11 de junho de 2012

 
(...)
Namorar é além do beijo e da sintaxe,

não depende de estado ou condição.

Ser duplicado, ser complexo,

que em si mesmo se mira e se desdobra,

o namorado, a namorada

não são aquelas mesmas criaturas

que cruzamos na rua.

São outras, são estrelas remotíssimas,

fora de qualquer sistema ou situação.

A limitação terrestre, que os persegue,

tenta cobrar (inveja)

o terrível imposto de passagem:

"Depressa! Corre! Vai acabar! Vai fenecer!

Vai corromper-se tudo em flor esmigalhada

na sola dos sapatos..."

Ou senão:

"Desiste! Foge! Esquece!"

E os fracos esquecem. Os tímidos desistem.

Fogem os covardes.

Que importa? A cada hora nascem

outros namorados para a novidade

da antiga experiência.

E inauguram cada manhã

(namoramor)

o velho, velho mundo renovado.



Carlos Drummond de Andrade

Fonte:  http://pensador.uol.com.br/frase/MzI0Njgx/

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